quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Depressão pós-parto! Parte II - Identificando e tratando! - Por Dr. Rodrigo Toledo

Olá Mamães!

Meu nome é Rodrigo Toledo, 41 anos, sou Médico Psiquiatra, com Residência Médica pelo Instituto Philippe Pinel - RJ, Pós-Graduado em Geriatria e Gerontologia pela UFF, com 16 anos de experiência em Psiquiatria, atualmente atuando apenas em Consultório Médico. Casado e feliz com Thatiana Toledo, Pai do Rafael de 5 anos e da Victoria de 1 ano e 7 meses. Músico Amador nas horas vagas e Apaixonado pelos Beatles.
Recebi o convite da Renata, para escrever no Blog sobre o assunto Depressão Pós-parto. Apesar de ser a primeira vez que escrevo em um Blog, fiquei feliz com o convite e super motivado, visto ser um assunto de suma importância e de meu dia a dia em consultório. A idéia não foi apresentar um texto técnico, como termos Médicos, mas passar um pouco do que é a Depressão Pós-parto, de uma forma mais informal.  Espero que gostem e que eu possa ter elucidado mais sobre o tema.

Maternidade é uma Benção! Alegrias, Realizações, Sorrisos, cheirinho de bebê, roupinhas, expectativas,... mas também responsabilidades... Muitas e muitas responsabilidades. Cansaço, noites mal dormidas, exaustão, mudanças no corpo. Imagine somar a essa equação um Quadro de Depressão pós-parto.De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Depressão pós-parto afeta entre 10% e 15% de mulheres em países industrializados e, entre 20% e 40% de países em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, uma em cada sete mulheres passa por este problema.

Na Psiquiatria, a fronteira entre o Normal e o Patológico é muito tênue e, a primeira dúvida que todos temos, quando falamos de Depressão é: Como eu vou saber se é Tristeza ou Depressão? Qual a diferença entre Tristeza e Depressão? Costumamos dizer, de maneira sucinta, que a tristeza costuma ser momentânea e a Depressão não, necessitando de acompanhamento Médico Especializado. A Tristeza é um sentimento e faz parte da condição humana. Não vivemos felizes todos os dias, o mês todo, o ano todo e, nem por isso sofremos de Depressão. Se você me disser que perdeu um parente, um amigo, seu animalzinho de estimação e esta dando festa, isso sim seria anormal. A tristeza, nesses casos, é condizente, coerente, com seu momento de vida. Depressão é uma condição Clinica, uma patologia, não momentânea, não necessariamente condizente com seu momento de vida, que necessita de Tratamento Psiquiátrico. As causas de Depressão são variadas: além das Psicossociais, falamos também de alterações de Neurotransmissores, de Fenda Sináptica e Receptores,... mas esses são outros assuntos que, nesse texto não precisam ser abordados, visto a complexidade dos mesmos.

Trazendo esse conceito que acabamos de discutir para o tema Depressão pós-parto, qual a diferença entre Tristeza Materna ( Baby Blues ) e Depressão Pós-parto. De maneira mais simplista, podemos dizer que a Tristeza Materna pode acometer até 2/3 das Puérperas, iniciando nos primeiros 10 dias do pós-parto, com sintomas de irritabilidade, oscilação do humor, choro fácil, indisposição. Sintomas que não causam tanta alteração no funcionamento da mulher. A diferença para a Depressão, seria a intensidade e o tempo de permanência desses sintomas. Digamos que persistindo esse Quadro, após 6 a 8 semanas, já pensamos em Depressão Pós-parto. Casos mais graves de Depressão Pós-parto, podem permanecer por até 2 anos. Alguns estudos apontam que mulheres com Quadro de TPM mais severa, antes da gestação, são mais propensas a Depressão Pós-parto.

Não podemos deixar de considerar, também, que problemas psicossociais antes ou durante a gestação, também aumentam a prevalência de Depressão Pós-parto. Estamos falando, entre outras coisas, de Gravidez não desejada, não aceita pela família, situação civil irregular, etc. Fatores esses, que podem desestabilizar emocionalmente a Gestante.

Outro estudo aponta que Gestantes mais jovens são mais propensas a Depressão Pós-parto. A variação estatística, segundo estudos, mostra uma diferença de 23% para as mais jovens e de 11% para as restantes.
Sendo assim, os sintomas mais comuns da Depressão Pós-parto são:
·      Tristeza com piora no início da Manhã. Iniciar o dia é sempre um martírio;
·      Sem objetivo, planos para o futuro;
·      Ansiedade, que se intensifica mais a noite e prejudica o sono. Como se a cabeça não parasse de pensar, não desligasse;
·      Irritabilidade;
·      Choro fácil;
·      Humor oscilante;
·      Défict de Concentração;
·      Baixa estima;
·      Estranheza ao próprio bebê, como se não fosse seu filho;
·      Perda de libido;
·      Excesso ou perda de apetite;
·      Falta de energia.


O Tratamento deve ser conduzido em 4 frentes:  o Psiquiatra, o Psicólogo, o Ginecologista e o Pediatra. A idéia não é apenas recuperar a Saúde mental da mãe, mas também prevenir distúrbios no desenvolvimento do bebê e no relacionamento familiar.

O Tratamento Psiquiátrico é conduzido como se fosse uma Depressão Maior e, o uso de Antidepressivos é indicado. O sucesso com o uso de Antidepressivos requer disciplina da paciente e de sua família com o uso desses remédios. O Antidepressivo não é um medicamento que faz efeito na hora! Em média, o paciente começa a sentir os primeiros efeitos positivos após 10 a 15 dias. Deve-se usar o medicamento sempre no horário marcado e, todos os dias. Deixar de tomar um dia vai atrasar o benefício esperado pelo paciente. Bebidas alcoólicas não devem ser associadas. O Álcool é um Depressor do Sistema Nervoso Central. Diminua bastante o consumo de cafeína. A cafeína aumenta a Ansiedade. Evite bebidas à base de Cafeína, como Café, Coca-Cola, Mate, Chá Preto, energéticos como Red Bull.

Outra questão importante é que os Antidepressivos são medicamentos que passam para o leite materno. Aqui entra um ponto importantíssimo: a Amamentação. Nesse momento, solicitamos a participação do Pediatra. O Psiquiatra deve avaliar a relação custo-benefício de medicar a paciente que esta amamentando. Medicina não é Matemática. Não somos uma ciência exata e a regra é: Cada caso é um caso. A individualidade do Quadro Clínico de cada paciente deve ser respeitada. Existem pacientes que usam o Antidepressivo e param a Amamentação. Em outros casos, conseguimos esperar a Amamentação e entrar com o Antidepressivo mais tarde. Em outros ainda, usamos o Antidepressivo e a Amamentação vai aos poucos sendo retirada. Essa avaliação deve ser feita pelo Psiquiatra, com a Colaboração do Pediatra. Os Antidepressivos mais estudados, que menos estão presentes no leite materno foram a Sertralina e a Paroxetina.


Então, mamães, a Depressão é uma doença séria e deve ser levada a sério. Busque Profissionais Especializados para conduzir seu tratamento. Você deve procurar um Psiquiatra e um Psicólogo.
A participação dos Familiares, principalmente do Marido, é fundamental. Lembre-se que você é PAI e Marido, não apenas um Ajudante! E eu sei o que estou falando, sou Pai e marido também. Procure não apenas a melhora de seus sintomas, mas também retornar a Qualidade de vida. Qualidade de Vida é Saúde Mental, Atividade Física, Lazer, Vida Social,... Mesmo com um bebê pequeno, podem e devem ser retomadas. Se preciso for, use medicamento. Não tenha preconceito! Por isso, escolha um Profissional Especialista para fazer seu Tratamento. Não significa que você vai tomar remédio a vida toda! Esse talvez, seja o maior medo de todos os pacientes.
E por fim, lembre-se: Deus lhe deu o maior presente de sua vida e, Ele não lhe daria se você não pudesse cuidar! 


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