quarta-feira, 27 de abril de 2016

O Parto!!! Parte VI - Na garra ou na marra? - Por Dr. Alexandre Peres

Olá.
Sou Alexandre Peres, médico anestesiologista, casado e pai de duas figuras: o Eduardo de 10 anos e da Laura, de 5. Fui formado na Universidade Federal Fluminense e me especializei no Hospital da Lagoa. Amo minha especialidade e estar no centro cirúrgico.
Minha relação com a Renata começou como paciente e, depois, como amiga.Tive o prazer de acompanhar nessa condição, de amigo, o nascimento do Jonas e agora recebo honrado o convite de participar do blog.

A anestesia ainda é um dos maiores medos de qualquer pessoa que entra em uma sala de cirurgia como paciente. É uma área repleta de mitos, estórias e desconhecimento.A anestesia permitiu o desenvolvimento da clínica cirúrgica e nas últimas 3 décadas foi uma das especialidades que mais se desenvolveu, com novas drogas, mais seguras, monitorização mais avançada e formação do médico anestesiologista.

Quando falamos sobre anestesia precisamos falar de dor. Na origem dos tempos, a mulher recebeu o castigo divino da dor durante o trabalho de parto. Será que essa dor é real ou apenas impressão? Na verdade, a dor é um fenômeno duplo, físico (objetivo) e individual (subjetivo) ou psicossomático.

A dor é uma sensação que varia de pessoa a pessoa. Durante o trabalho de parto a dor depende de muitos fatores desde o tamanho e posição do bebê até a força e freqüência das contrações uterinas.

Em obstetrícia, dois métodos são mais comumente utilizados durante o parto: a analgesia, que é o alívio da dor, para o parto normal e a anestesia, que é a interrupção total da sensibilidade,  para o parto cesáreo.

A anestesia regional é a mais utilizada em cesareanas. São os bloqueios espinhais, a peridural e a raquianestesia. Aplicadas nas suas costas, na altura da coluna lombar, ela inibe a sensação dolorosa e motora de uma região do corpo, mantendo a consciência. Você não sentirá dor, e ficará acordada durante todo o procedimento, acompanhando o nascimento de seu filho, podendo vê-lo assim que nascer e for avaliado pelo pediatra.
no parto normal a gestante precisa colaborar com o procedimento, auxiliando durante as contrações. A analgesia permite um maior conforto para a mãe, controlando a dor, mas ao mesmo tempo evita o bloqueio dos movimentos das pernas.

Podem ser feitos analgésicos sistêmicos, por via venosa, ou regionais , através da peridural, da raquianestesia ou das duas técnicas combinadas. A analgesia regional é mais eficaz, segura para a mãe o bebê, com poucos efeitos colaterais.

Como é feito o procedimento? Você ficará em posição sentada ou deitada de lado. Suas costas serão limpas com uma solução alcoólica, será colocado um campo cirúrgico, o médico anestesista vai examinar suas costas e decidir o melhor local para a punção. É feita então uma anestesia local na pele e logo abaixo dela. Essa anestesia local arde nos primeiros segundos, mas depois não sentirá mais dor.

Qual a diferença entre a peridural e a raquianestesia? A técnica tem muitas semelhanças, como preparação e o posicionamento. No bloqueio peridural é utilizada uma agulha mais grossa que na raqui; são utilizadas doses e volumes diferentes de anestésicos e adjuvantes ao bloqueio; geralmente a raqui tem maior bloqueio motor e sensitivo que a peridural, e o espaço anatômico onde o anestésico é depositado é mais anterior (superficial) na peridural, o que permite que ela seja aplicada em qualquer local da coluna vertebral, enquanto a raqui é somente feita da região lombar para baixo.

A analgesia não retira totalmente a dor, mas torna o trabalho de parto tolerável  e confortável para a equipe e a paciente.

Em alguns casos é realizada anestesia geral, como em pacientes com algumas cardiopatias.

Qual a melhor técnica? O seu anestesista decidirá a melhor técnica baseada em você, seu bebê e o momento do parto. Confie no entrosamento da equipe, tire suas dúvidas, pergunte, conte seus medos e expectativas.

Espero ter ajudado as futuras mamães, diminuindo um pouco a ansiedade em relação a anestesia.

Um beijo!
Alexandre

quarta-feira, 20 de abril de 2016

O Parto!!! Parte V - O PAPEL DO PEDIATRA NA SALA DE PARTO - Por Dra. Fernanda Catharino

Sabe quando aquele convite é feito e você vibra por ter sido escolhida para falar dele? Este foi exatamente assim! Falou em sala de parto eu já estou vibrando! Com certeza é o que eu mais amo fazer na minha vida! Fazer uma sala de parto é participar de um momento único na vida de qualquer família.
Para estreitar cada vez mais o laço família – pediatra, “inventei”, como já falei pra vocês em outros posts, a consulta pré-natal com a Pediatra escolhida. Digo que inventei, pois não conhecia ninguém que fazia isso antes.  Daí, um dia pensei que se já conhecesse a família antes, explicasse a eles tudo que acontece durante um trabalho de parto, durante o momento parto e, principalmente o que acontece com o bebê logo assim que ele nasce, tudo fluiria com mais naturalidade, tudo seria menos invasivo possível, mas com certeza tudo com os olhares mais responsáveis do mundo sob o bem mais precioso que acabara de chegar. E melhor ainda, sob o olhar que mamãe e papai escolheram para estar ali naquele momento. Vale lembrar que o pai, ou o acompanhante escolhido pela mãe, deve participar da consulta pré –natal também! É importante ele ter ideia de tudo que vai acontecer lá e acompanhar o bebê logo após o nascimento!
O papel do pediatra na sala de parto traz TODA  segurança que uma equipe obstétrica necessita. E é, por isso, INDISPENSÁVEL! O Pediatra é  aquele que diz o que todos querem ouvir ( “O bebê está ótimo!”)  e, é o médico habilitado através de cursos específicos oferecidos pela Sociedade Brasileira de Pediatria, para intervir quando há necessidade. Sim, na sala de parto podem acontecer situações graves que necessitem de conhecimento, rapidez e habilidade para resolver.
Quando o bebê nasce, seja de parto normal ou cesariana, a primeira preocupação deve ser a prevenção da hipotermia através de calor, panos aquecidos e contato pele-a pele com a mãe. Foi criado um Indice chamado APGAR, que são as famosas “notinhas” dadas ao bebê no primeiro e no quinto minuto de vida. Essas notinhas indicam principalmente se o recém- nascido sofreu algum grau de asfixia (falta de oxigenação), que o impeça de seguir em aleitamento materno assim que possível. O Apgar avalia características como  respiração (choro), frequência cardíaca, irritabilidade do bebê, tônus muscular e a cor do bebê ao nascimento. São dadas notas de 0 , 1 ou 2 para cada item, no primeiro e no quinto minuto de vida. A soma deles deve ser superior a 5 sempre para que o bebê siga em alojamento conjunto e em aleitamento materno exclusivo com sua  mãe.
Dado o Apgar, é realizado o primeiro exame físico do bebê, para que possam ser checadas as informações ultrassonográficas já vistas  laaaá na consulta pré-natal....  seguimos então com o clampeamento definitivo do cordão umbilical, coleta de sangue deste cordão para realização de tipagem sanguínea e fator Rh e  identificação do bebê e da mãe.
Preconizando o parto cada vez mais humanizado (sim, eu faço sala de parto de “cesárea humanizada”) o bebê deve estar junto de sua mãe o mais breve possível e o contato com o seio materno deve ser incentivado ainda dentro da sala de parto. Há estudos que comprovam que o sucesso do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade, está diretamente ligado `a essa  prática!
Portanto mamãe e bebê deve ser separados apenas para procedimentos de pesagem, medidas e cuidados específicos como realização de vitamina K (para prevenção de doença hemorrágica do RN), realização de CREDE ocular nos partos vaginais, e colocação de roupinhas adequadas a temperatura. Esses procedimentos devem ser rápidos e o bebê deve voltar aos braços maternos o quanto antes!
Certamente é um momento sublime! E deve fazer parte dele pessoas especiais e escolhidas por você mamãe, a dedo! Faça questão disso! Vale muito a pena! Conheça seu Pediatra! Estreite essa relação!



quarta-feira, 13 de abril de 2016

O Parto!!! - Parte IV - Mas nem sempre dá para ser como a gente gostaria... Por Marina Narcizo

À convite da Renata, vou dar aqui o meu relato do parto do meu filho Theo, que hoje tem 1 ano e 11 meses. Eu acho que desde sempre, mesmo antes de engravidar, nunca tive dúvidas de que eu tentaria parto normal. Quando descobri que estava grávida, comecei a estudar e pesquisar sobre parto normal e percebi o quanto eu desconhecia sobre o assunto, "falta de dilatação", "não tem passagem", "cordão enrolado no pescoço", "bolsa rota", "mecônio", quantos mitos existiam em relação ao parto normal. Aos poucos, fui entendendo como se dava todo o processo do trabalho de parto e, munida destas informações, tive ainda mais certeza de que o parto normal era a melhor escolha para mim e meu filho.

Na segunda consulta com minha obstetra, já conversei com ela sobre este assunto e ela disse também ter preferência pelo parto normal, mas que ela cobrava uma taxa de disponibilidade já que o plano de saúde não paga ao médico e sua equipe pelo tempo em que ficam com a paciente em trabalho de parto, paga somente o parto. Como já havia lido que esta taxa de disponibilidade era uma prática comum e já esperava que ela fosse me cobrar, aceitei pagar, afinal achar médicos que façam parto normal pelo plano é praticamente impossível.

Conversamos muito, durante toda a gestação, sobre quais procedimentos gostaria que não fossem feitos durante o parto, como episio e indução, a primeira combinamos que não seria feita, já a segunda, seria realizada somente se houvesse uma necessidade real. À principio, também tentaria não tomar nenhuma analgesia para não atrapalhar a evolução do trabalho de parto, mas, de qualquer forma, haveria um anestesista, até para o caso de ter que se realizar uma cesárea.
Minha gravidez seguiu da melhor forma possível, tudo indicava que não teria nenhum impedimento para realizar o meu tão sonhado parto normal.

Com 41 semanas e 3 dias, por volta de meio dia, comecei a sentir umas contrações, bem fracas e sem muita frequência, mas conseguia identificar que eram diferentes da contrações de ensaio que senti por volta das 36 semanas. Fiquei animada, finalmente Theo estava chegando! Passei o dia monitorando as contrações para ver elas já estavam ritmadas, mas para minha frustração, no final do dia, não sentia mais nada. No dia seguinte, acordei sem sentir as contrações, uma vez ou outra, durante o dia, sentia algumas mas sem muita intensidade, fui na minha médica e ela verificou que ainda tinha dilatação, voltei para casa frustrada achando que teríamos que partir para indução. Mas, no dia seguinte, acordei sentindo as contrações novamente, agora um pouco mais intensas e ritmadas, no meio do dia fui no consultório da minha médica e ela viu que estava com 2 cm de dilatação e pediu que eu voltasse lá no final do dia. Às 18 hrs, ela me examinou novamente e viu que já estava com 4 cm e, a essa altura, as contrações já estavam beeeem mais intensas, e com intervalos de 5 minutos. Voltei para casa para esperar evoluir um pouco mais e por volta das 20 hrs fui para a maternidade.

Chegando lá, já estava com 7 cm, fui para uma sala de pré parto, e me colocaram no soro. Sentia que a cada contração, a intensidade aumentava um pouco mais, isso, de alguma forma, preparava meu corpo para suportar a dor que ficava cada vez mais intensa. Minha médica pedia que eu fizesse força, mesmo sem ter vontade, eu empurrava, porque achei que isso poderia ajudar o Theo a descer. Até que em um determinado momento, as contrações passaram a ficar insuportáveis, a minha sensação era de que não havia sido um aumento gradativo, como vinha acontecendo, foi de repente, então questionei a minha médica e ela confirmou que havia colocado um "pouco" de ocitocina no soro. A partir daí, já não lembro de muita coisa, só de sentir tanta dor a ponto de achar que ia enlouquecer, até que chegou um momento em que pedi analgesia. Fui levada pro centro cirúrgico e tomei anestesia, e, como havia pedido, continuei sentindo as contrações, mas sem sentir dor, então conseguia fazer força no momento certo. 

Depois de 5 hrs que já havia chegado no hospital já estava com 10 cm de dilatação, nesse momento era impossível não fazer força, meu corpo pedia por isso, mas, mesmo assim, Theo não estava descendo, segundo a médica, ele estava com a cabeça um pouco virada e isto estava impedindo que ele descesse, mas como ele estava sendo monitorado e estava tudo ok, continuei fazendo força. De repente, minha pressão começou a subir muito, talvez, pela minha preocupação do bebe não estar descendo, talvez por estar cansada de estar há tanto tempo fazendo força, até que minha pressão chegou a 17 por 9 e a médica achou mais prudente realizarmos a cesárea. Naquele momento, meu mundo caiu, eu estava preparada para qualquer coisa, menos a cesárea, mas, ao mesmo tempo, só o que eu queria era ter meu filho nos meus braços.

Depois de 14 horas de trabalho de parto, meu filho nasceu, com 52 cm, 3,5 Kg e extremamente saudável e esperto!

Posso dizer que esta experiência foi a mais difícil que já vivi na minha vida, lembro de cada contração que senti, e acho que nunca vou esquecer a dor e o sofrimento que é o trabalho de parto, mas sem sombra de dúvidas, é um processo transformador! 

O mais importante que posso tirar desta experiência é que é essencial que a gente busque informação sobre os tipos de parto, e que, ao tomar uma decisão, verifique-se se o seu médico está alinhado com o que você pensa, mesmo que ele te diga que faz o parto que você deseja, pesquise quais tipos ele realiza com mais frequência, porque ele pode até estar bem intencionado mas pode não ter a experiência necessária e é isso que conta! A ANS já divulgou uma resolução onde os planos de saúde são obrigados a fornecer, quando solicitados, o percentual de partos normais e cesáreas realizados pelos médicos conveniados, isso já ajuda muito!


E não deixe de fazer um plano de parto, assinado por você e seu médico, especificando tudo que gostaria que fosse e não fosse feito durante seu trabalho de parto, dessa forma você se resguarda sobre algum procedimento desnecessário que o médico possa realizar. 

Marina Narcizo

quarta-feira, 6 de abril de 2016

O Parto!!! parte III - Quando vc decide!! - Por Lilian Martins Moreira

Ola!
Sou a Lilian, advogada, Casada com o Filipe e mão do Carlos Eduardo.
Quando a Re me pediu um relato da minha experiência fiquei muito feliz, pois acho que o que irei relatar aqui vai ajudar a muitas futuras mamães a ter um parto com respeito e dignidade e encorajá-las a ter um parto normal. Por isso, acho importante a exposição nesse sentido.

Hoje meu filho Carlos Eduardo = CADU está completando  3 meses e 14 dias de muita fofura, gostosura e esperteza.
Cadu nasceu no dia 21/12/2015, as 10:55 hs, de parto normal, pesando 3.530 kg, com 50 cm e super saudável, limpinho e com Apgar 9 (numeração que a criança ganha ao nascer e quanto maior melhor) e de olhos bem abertos.

Quando do início da gestação, sempre quis ter um parto cesariana para “fugir” das dores do parto e por achar desnecessário todo o sofrimento que o parto normal poderia me ocasionar, além do risco por conta da pressão alta e do DPOC (Asma) que eu tenho.

No decorrer da gestação fui acompanhada pela médica do plano e minha saúde no pré natal sempre esteve ótima. Comecei a ampliar os horizontes sobre os tipos de parto e uma grande amiga (grávida também, só que com um mês de gestação na minha frente) me indicou um filme para ver sem compromisso, chamado “Renascimento do Parto”.

Esse filme me tocou muito e foi muito esclarecedor. Comecei a entender que o nascimento do meu filho era um momento único, mágico e relevante, sendo importante ele nascer no seu tempo e que essa minha decisão seria muito importante para seu desenvolvimento e sua saúde.

Na 35a semana de gestação conversei com a médica que estava me acompanhando sobre quais seriam minhas chances de ter um parto normal, já que tudo estava caminhando muito bem para isso. A mesma se mostrou apática, informando todos os problemas que poderiam ocorrer no parto normal (não citou nenhuma vantagem), agendou para o Cadu nascer de cesárea dia 7/12/2015 às 6h da manhã, numa terça-feira, pois assim não atrapalharia sua agenda no consultório, e caso quisesse fazer diferente (Parto normal), teria que ser no particular, fora do plano de saúde, além de outras coisas que não vem ao caso relatar. Sai do consultório meio acuada, chateada e inconformada da possibilidade do meu filho nascer com data e dia marcados, como se eu estivesse indo fazer as unhas....

Fiquei bem chateada e inconformada com a postura e fui para casa pensando muito nisso tudo. Tentei marcar outros médicos conveniados do plano, todos sem sucesso, as desculpas sempre eram as mesmas: agendas lotadas e indisponibilidade de me acompanhar devido ao tempo que eu estava de gestação.

Insisti na minha vontade de querer ter um parto respeitoso e dentro do que eu gostaria. Foi quando uma amiga me indicou uma médica “estilo humanizada” e que fazia partos com respeito e levando em consideração que a grande protagonista do parto é a mãe.

Contrariando muitas pessoas, inclusive meu próprio marido, insisti na ideia e entrei em contato com a Dra Mariana Carvalho, que marcou a consulta na minha casa, durou 3h, e tirou TODAS as nossas dúvidas de uma forma bem esclarecedora e que me tranquilizou muito. Ficamos convencidos de contratá-la para realizar nosso parto.

Essa decisão fez toda diferença para o parto “mágico” que tivemos e que emocionou a todos que o acompanharam (eu, meu marido, anestesista, obstetra, pediatra e enfermeiras). Foram 9 horas de trabalho de parto, que começou as 1:30 hs da madrugada em casa e com todo o apoio da obstetra (que chegou na minha casa as 3:30 hs da madruga) que fez o trabalho de doula, médica e amiga, tendo toda paciência comigo, pois as dores eram muito fortes e eu estava muito nervosa, insegura, vulnerável e com medo.

A bolsa estourou mais ou menos 3 hs da manhã e foi difícil aguentar. Saímos de casa em direção ao hospital com 3 cm de dilatação e chegamos com 5 cm de dilatação, pedi anestesia porque pra mim a dor já estava num ponto insuportável de aguentar, estava passando mal fisicamente, já tinha vomitado e sentido vontade de desmaiar.

A Anestesia foi essencial para eu aguentasse até o final, porque simplesmente cessou a dor e ainda tinha que fazer força para que o bebê pudesse sair, com a dor que eu estava sentindo, ia ser impossível ir até o final. Dra. Mariana e a Dra. Juliana (anestesista) dando todo o apoio e me passando tudo que estava acontecendo e me orientando com tudo que eu tinha que fazer. Não perdi a sensibilidade das pernas e andei todo o centro cirúrgico, mudei várias vezes de posição, fiquei de cócoras, sentei no banquinho que é vazado por baixo para facilitar a expulsão do bebê, fiquei sentada, deitada na maca cirúrgica.

As luzes do centro cirúrgico foram diminuídas, desligaram o ar condicionado, colocaram música ambiente (na hora que o baby nasceu estava tocando Janeiro a Janeiro de Nando Reis), a médica tirou o relógio da sala (para que eu não ficasse ansiosa), a Dra. Juliana fez uma sessão de fotos pelo celular que parecia ensaio profissional (nota mil tb, merece todos os créditos), quando o bebê “corou” e não saia, onde qualquer outro médico faria uma Episiotomia para “adiantar” o andamento, foi quando,  em voz alta para que meu filho me ajudasse a sair e foi quando eu dei a luz de uma forma respeitosa, mágica e como meu filho merecia, o respeitando no seu tempo e na vontade de Deus.
Meu marido esperou o cordão umbilical parar de pulsar e o cortou. Tudo dentro do que esperei e não me arrependo de nada.

Parabéns e muito obrigada a toda equipe envolvida Dra. Mariana Carvalho (Obstetra/doula e amiga), Dra. Márcia Martins (Pediatra) e Dra. Juliana Azzi (Anestesista/Fotógrafa rs).

Esse é o ideal para o Parto Normal sem violências obstétricas, onde a protagonista é a mãe (quando tudo sai dentro do esperado), onde há o respeito pela vida que já pulsava dentro de mim e a sua vontade e hora para nascer e respeitando também a vontade de Deus, me senti acolhida, cuidada e respeitada no momento mais importante da minha vida, do meu filho e do meu marido.

Lilian

sábado, 2 de abril de 2016

O Parto! Parte II - Entendendo as opções!!! - Por Dra. Mariana Carvalho

Olá pessoal !
Meu nome é Mariana Neves Carvalho, tenho 36 (quase 37) anos, solteira, sonho em também ser mãe. Mas estou por aqui falando com vocês porque sou obstetra e ginecologista. Cursei medicina na Universidade Federal Fluminense,me formei em 2004. Posteriormente fiz 3 anos de Residência médica em ginecologia e obstetrícia na Maternidade Carmela Dutra no Rio de Janeiro (local de imenso movimento) e no Hospital da Piedade. Durante esses anos de profissão estive em diversas maternidades do SUS e morei um ano no Sertão do Ceará, experiência muito rica. No momento trabalho em duas maternidades que me fazem muito feliz, onde há a procura de respeitar a gestante e oferecer, mesmo com recursos algo escassos, uma assistência digna e com a presença de um acompanhante de sua livre escolha. Infelizmente não foi assim durante toda minha trajetória. Trabalho ainda em consultório, em parceria com o especial Philippe Godefroy, obstetra, que assim como eu, quer ajudar na mudança do paradigma no nascer. Formamos o Grupo Nascer.

 Fiquei  muito contente com o convite da Renata para estar escrevendo sobre " Tipos de Parto " para seu blog. Acho muito bom ter um espaço para dizer como o obstetra pode sim estar " do mesmo lado" de quem procura respeito ao parir. Todos sabemos como têm havido grandes polêmicas sobre o assunto e como os médicos têm sido criticados devido suas opiniões e condutas. É importante então, para mim, poder informar como procuro fazer meu trabalho e como há obstetras, que como eu, dão valor a esse marco na vida de uma mulher e de sua família.

Como a internet hoje nos oferece uma grande gama de informações sobre o tema e vocês certamente já conhecem os "Tipos de Parto" de uma forma mais burocrática ( assim eu diria), vou tentar falar sobre o assunto como se estivesse em meu consultório e como eu tento informar as gestantes que presto assistência.

Faz parte da natureza da mulher a pré-disposição de parir. Desde que o mundo é mundo. Obviamente em alguns casos essa pré-disposição esbarra em limites da natureza individual de cada mulher especificamente. Limites ligados a anatomia, a doenças e intercorrências. Ao falar " parir" me refiro ao ato de ter seu filho por via vaginal.

Só existem duas vias de parto. A vaginal, na qual a expulsão do bebê ocorre pela pressão que as paredes do útero exercem sobre a criança, e a transabdominal, quando a criança é retirada por meio de uma incisão no abdome materno. O que muda nos partos vaginais é a forma como eles são conduzidos.

Fisiologicamente, todas as mulheres estão preparadas para o Parto Vaginal. É a primeira indicação desde que não existam situações de risco para a mãe ou o bebê que exijam outro tipo de procedimento. É importante encorajar as mulheres a conhecerem seu corpo e suas capacidades. Explicar os benefícios para mãe e filho da passagem pelo processo de Trabalho de Parto. Trata-se de um momento de transformação na vida dessa mulher, de uma maneira itensa, ao qual poucos momentos de vida podem ser comparados em termos de  grandiosidade. Perder essa oportunidade de auto-conhecimento humano por escolha própria é um desperdício em minha opinião (essa é a minha opinião! não verdade absoluta!). Além disso, os benefícios práticos em termos de saúde , recuperação física e emocional são conhecidos e difundidos por todos.

O termo "Parto Normal" é empregado para partos via vaginal mas que podem e acabam sofrendo intervenções como anestesia, episiotomia (corte que o médico faz no períneo para facilitar a saída do bebê) e indução das contrações por meio de soro com ocitocina. Esse tipo de parto é o que a grande maioria de nós obstetras aprendemos em nossa formação. Nossa cultura priorisou esse modo de parto via vaginal durante décadas.

O Parto Natural é bastante confundido com o parto normal. Nele não são realizadas intervenções desnecessárias com medicamentos e procedimentos, como corte do períneo. Nele, as necessidades da mulher são respeitadas e valorizadas. Ela escolhe a posição em que decide estar em cada momento do trabalho de parto, inclusive durante o nascimento do bebê. Quem a está assistindo adapta-se às necessidades de movimentação do momento. Exemplos? Permanecer no chuveiro, no "cavalinho", na bola, na banheira, na cama, no chão, deitada, de cócoras, em quatro apoios e por aí vai. No momento da descida do bebê pelo canal de parto, durante a dilatação e período expulsivo, somente a mulher consegue sentir qual a posição mais confortável para ela. Quanto maior o conhecimento do próprio corpo, melhor e com maior fluxo viverá esse momento.

O termo "Parto Humanizado" tenta abarcar algumas características a mais que o "Parto Natural".  Sempre está em foco o desejo da mulher e o que poderá beneficiar o seu bem-estar no momento do trabalho de parto, no parto e no puerpério imediato. Algumas coisas sabidamente benéficas e relaxantes são oferecidas a ela para que possa usufruir de livre escolha. Entre elas a presença de um acompanhante (maioria das vezes seu companheiro), a doula que já a conhece e que dará apoio emocional nesse momento, pouca luz (aliviando o estímulo de estresse que pode inclusive diminuir os níveis de ocitocina, tão importantes nesse momento), banho de imersão em água morna (banheiras os piscinas) e outros métodos de alívio não farmacológico da dor como massagens. Ainda é muito interessante quando podemos contar com a bola de pilates, o "cavalinho" e a banqueta de parto, todos com o objetivo de ajudar na movimentação da mulher e facilitar a descida do bebê pelo canal de parto. Além disso a mulher pode trazer para a cena de parto objetos pessoais e coisas que a fazem sentir bem e calma, como músicas de seu agrado.

A Cesárea é o parto cirúrgico, via abdominal. Nele, a gestante recebe anestesia geral ou da cintura para baixo, chamada raque. Uma incisão (corte) é feito dois centímetros acima do púbis (aquele ossinho que tocamos na região mais anterior da vulva). Algumas camadas da parede abdominal são abertas, assim como o útero, até termos acesso ao bebê e de lá retirá-lo. Essa cirurgia foi criada com o intuito de salvar vidas! E assim o faz até hoje! Existem situações em que o parto via vaginal não é viável ou representa grande risco de morte para a mãe e/ou para o bebê. O que antes do surgimento da cesárea seria fatal passou a ser resolvido com sucesso e com vida. Mas para desfrutarmos dos benefícios da cesariana ela deve ser bem indicada. Deve possuir uma real indicação. Afinal é uma cirurgia e como tal pode oferecer riscos. Riscos esses desnecessarios de se correr marcando uma cesárea eletiva. As indicações são diversas e seria muito assunto para falarmos aqui ( podemos pensar nisso posteriormente). Mas entre elas podemos citar algumas: raras doenças maternas, sofrimento fetal, posicionamento inadequado do bebê no canal de parto dentre outros. Importante salientar que na grande maioria das vezes o diagnóstico que leva a indicação é feita durante o Trabalho de Parto e não antes dele.

A assistência ao trabalho de parto pelo obstetra consiste em acompanhar o processo, verificando se está tudo correndo conforme o esperado e a mulher parirá sem interferências ou se há a necessidade de intervenções para garntir a saúde de mãe e bebê.

Dou uma dica para vocês: se informem bastante, porém em fontes de confiança. Além disso procurem confiar no obstetra que escolherem e bom parto!