quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Da solidão materna a libertação da mãe. - Por Bia Mello

Gente! Blogueira convidada na área! Como prometido, a Bia veio acrescentar o tema do puerpério (ou pos-parto mesmo!), mostrado a experiência dela nessa louca viagem que é ser mãe!
Se vc tem uma historia muito legal sobre sua experiência como mamãe de primeira viagem e quer dividir com a gente, é só entrar em contato aqui pelo Blog!

Ta contigo Bia!!!


Quando a Renata me convidou para escrever no blog Playing Paradise fiquei muito feliz! Ela, naturalmente, fez o que eu acredito sobre a relação entre mães. Nós nos conectamos! Tínhamos trocados algumas palavras e foi o suficiente para exercitarmos a empatia, por fazer parte do mesmo mundo materno. Renata, obrigada pela parceria, pelos diversos cafés e pela conexão!

***

Era chá de fraldas da minha filha, estava com 32 semanas e uma amiga perguntou-me quando seria melhor visitar a Lara, depois que ela nascesse. Na hora, eu respondi “quando você quiser, amiga!”. Eis que, uma pessoa muito próxima, interrompe a conversa e diz “é melhor esperar passar os primeiros meses para receber visitas, você estará tão cansada que não conseguirá servir uma fatia bolo para alguém”. Pronto! Acabei acreditando nessa sentença e, a partir daquele momento, estava certa que eu seria excluída do mundo.

Dramático, não? Mas foi assim que passei 4 meses da minha vida. Trancada em um apartamento, presa na rotina de mamadas, fraldas, banhos, golfadas e sonhando por uma benção divina, por uma noite de sono. Tudo para proteger a minha filha… Porque eu li, em algum lugar, que não se deve sair com o bebê antes de ter todas as vacinas. Porque, nesse mesmo lugar, dizia que todo bebê gosta de rotina e que os horários para cada mamada, troca de fralda, banho e soninho devem ser seguidos, rigorosamente. Porque todas as mães falavam como é cansativo cuidar de um bebê e eu tinha que me sentir igual. Porque eu ficava me convidando para a casa de qualquer parente, para passar uma tarde, só para sair de casa e ir para um lugar seguro com a minha filha. Porque eu me tornei refém de uma vida que eu não queria!

Os amigos vinham de vez enquando, mas não para conversar, bater aquele papo furado, mas para saber como a minha filha estava, se ela mamava bem, se ela dormia bem, se ela chorava muito, se ela tinha muita cólica. E eu, trouxa e orgulhosa, respondia a todas as perguntas com detalhes de quem lidava muito bem com tudo aquilo. Eram nesses momentos, que eu podia reforçar a imagem da super mãe… E quem iria perder essa oportunidade?

Mas, e as minhas perguntas? E se eu chorava muito? E se eu tomava banho? E se eu dormia? Ninguém perguntava ou queria saber. Pelo menos por whatsapp (viva a tecnologia!), algumas amigas que foram mães, recentemente, respondiam a uma dúvida ou outra, e perguntavam como eu estava… O que me fazia sentir que eu tinha alguma conexão com o mundo lá fora.

E lá se foram os dias passando, até que descobri um grupo de mães que fazia aulas de dança com seus bebês!!! Isso para mim foi libertador!!! Sim!!! É possível ter vida social, fazer um exercício, tomar um café, viver algo prazeroso para mim e estar com a minha bebê ao mesmo tempo! Contava os dias para a próxima aula…

A partir daí, descobri (e parei de me culpar) que tudo o que eu queria era, simplesmente, sair de casa e bater um papo com outras mães, não só sobre as dúvidas da maternidade, mas sobre fofocas e outras figurinhas, também. E fui mais além, descobri que não queria me livrar da minha filha para ter, novamente, momentos de convívio social… Que é possível ir e vir com um bebê pelas ruas, ao invés de ficar em casa sonhando com o dia que iria voltar a ter a minha vida, antes de ser mãe.

Muito louco isso! Sonhamos com aquela coisinha pequena em nossos braços, esse sonho nos faz mergulhar em um pesadelo construído pela sociedade de que mãe tem que ficar dedicada, exclusivamente, aos cuidados e proteção de seu filho, até sonharmos em não queremos ter aquela coisinha pequena nos braços e ter uma vida de volta.

Passou, então, a acontecer a parte gostosa da história.

Fiz uma lista de coisas que valiam a pena colocar na bolsa. Sempre fui uma pessoa muito prática, e não fazia sentido a mala ter tanta coisa que pesava mais do que a minha filha! Pronto! Primeiro obstáculo superado! E a desculpa de que sair com um bebê é muito complicado, porque tem que levar muita coisa, não existia mais! Comprei uma mochila!

Depois decidi experimentar esse negócio que está na moda, chamado sling. O que para mim era coisa de índio, passou a ser outra libertação! Gente! Eu não fazia ideia como aquele pedaço de pano poderia ser tão prático e confortável, tanto para mim quanto para a Lara! Amei tanto que cheguei a ter vários tipos, até descobrir qual fosse melhor para nós duas.

Hoje eu falo que é frescura, mas foi uma quebra de tabu colocar o peito para fora e amamentar a minha filha em qualquer lugar. Acabava sempre optando por um lugar mais reservado, não por vergonha, mas mais para curtir um momento de intimidade, entre mim e ela. Mas depois, de mudar esse pensamento, não perdi nenhum convite de almoço, não deixei de ir, a qualquer lugar, só porque, teoricamente, seria no horário da mamada da Lara. Como disse uma amiga muito queria, "hoje me arrependo de não ter saído mais, afinal de contas o peito estava comigo, era só levá-la comigo e tudo estaria resolvido".

E, nesse caminho, foram outras transformações: andar com ela sozinha de carro (visualiza o desafio: eu moro na Zona Sul e minha mãe na Barra),
dar uma volta no shopping (não tinha dinheiro para gastar, mas é sempre bom ver as modas e aproveitar o ar condicionado durante o verão mais quente do Rio), caminhar pela Lagoa (isto quer dizer, sair de carro e levar o carrinho na mala), brincar na areia da praia e ficar rosada por causa do sol (com direito a comer areia, é claro!), comprar uma cadeirinha para a bicicleta e me aventurar pelas ciclovias do Rio (passeio que ela curte muito e adora andar de bicicleta até hoje)…

Eu passei a conversar, abertamente, com outras mães sobre o que passava e receber um enorme carinho delas… Como eu sentia falta de um papo gostoso!!! E em troca ganhei conselhos (mesmo que alguns não fizessem sentido para mim) ganhei colo, abraços e amigas. 

Muita gente vai te dizer que você deve proteger o seu filho e que isso significa ficar em casa. Muita gente vai dizer que a maternidade é linda (principalmente nas novelas) e que puerpério não existe. Muita gente vai te falar sobre o lado negro da força e como ter um bebê é difícil e muito cansativo e o que salva é o amor que toda mãe tem pelo seu filho.


Enfim… O que eu posso te dizer é, que um bebê faz parte da sua vida e que despertará em você a leoa protetora de sua cria, mas que essa mesma leoa vive em bando, ela não cuida sozinha do seu filhote! Permita-se um colo! Busque um abraço, uma palavra, um carinho quando você precisar. Não viva a solidão! Viva a sua liberdade de ser mãe!

7 comentários:

  1. Muito bom o texto amei!! Vou lembrar disso quando eu precisar, por enquanto estou em outra fase que tb não é muito fácil, pelo menos pra mim...

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    1. Olá Lilika, qual fase você está? Se não está sendo fácil para você, procure uma mãe para trocar experiências! Quando compartilhamos, a identificação e até mesmo só em ouvir a nossa própria voz falando daquilo que não é legal para nós, já ajuda a aliviar e suavizar um pouco. Participe do Espaço Café com Leite. Este é o espaço para mães se conectarem. facebook.com/espacocafecomleite

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  2. Sensacional. O que mais escuto ultimamente é essa história, besta diga-se de passagem, que os primeiros meses tem que ficar em casa. Óbvio que não vou expor meu filho a nenhum risco. Mais um passeio na pracinha, no shopping, uma caminhada com ele no calçadão pra ver gente, tenho certeza que mal não faz. De início tive medo dessa solidão. Mais já venho trabalhando na cabeça essa coisa de não me isolar, e o texto foi sensacional ao dizer que o peito está em mim. Ou seja, se meu bebê está comigo, estará alimentado e protegido. Simples assim.
    Mamãe e com vida!

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    1. Joanna, vc tem toda razão! Claro que vamos analisar os riscos e não vamos expor nossos filhos, mas o que não vale é ficar trancada em casa e o mundo acontecendo lá fora. Nem todos nos entendem. Infelizmente, nossa sociedade tende a colocar o bebê como um bichinho que incomoda. Mas cabe a nós, mães estarmos conectadas. É só levar o seu peito e esbarrar com uma outra mãe :)

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  3. Adorei o texto! Acho que o mais importante é sabermos o que nos faz bem. Se quer ficar em casa, fique.
    Se quer sair, saia. Conforme citaram anteriormente, se o bebê está seguro, que mal tem?!

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    1. Sensacional, Luciana! Você é a melhor mãe que o seu filho pode ter! Se isso significa ficar em casa grudadinho com ele. Então fique! Se vc sente vontade de dar uma volta e continuar grudadinha com seu filho, então faça também! O que não vale é ficar angustia por fazer uma coisa e na verdade querer fazer outra.

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