quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Um Sol para cada um - Parte IV - "O D da questão!" - Por Dra. Maria Emmerick

Oi gente! Eu sou Maria Emmerick, Residente de Pediatria do Hospital Universitário Antônio Pedro e amiga da Rê! Como ela está fazendo no Blog uma serie de posts sobre o sol, achei que seria legal se falássemos sobre um assunto que esta muito em voga ultimamente: Vitamina D! Então, muito tem se falado em carência de Vitamina D, reposição, uma galera tomando suplemento para repor a vitamina D... Vou tentar explicar como funciona esse processo todo e porque crianças menos de 2 anos devem 
suplementar essa substancia. 

A vitamina D, na verdade, é um pró-hormônio relacionado com a saúde dos ossos, e estudos recentes tentam mostrar seu papel protetor em doenças como esclerose múltipla, asma, câncer, obesidade, diabetes tipo 1 e alterações cardiovasculares. Poucos alimentos são fontes desta vitamina, como peixes gordurosos (salmão, sardinha e atum), gema de ovo e óleos de fígado de peixes. Além disso, esses alimentos só suprem cerca de 20% de nossas necessidades diárias. Logo, a principal forma de se obter vitamina D naturalmente é a partir da síntese que ocorre nas células da pele. Mas o que o sol tem a ver com isso??? Tudo a ver! A síntese cutânea de vitamina D ocorre a partir da conversão de uma substância chamada 7-deidrocolesterol em outra chamada 3-colecalciferol, um pró-hormônio também, conhecido como vitamina D3. Essa conversão depende da ação de raios ultravioleta B do sol, justamente a radiação bloqueada pelos protetores solares. 

E agora? Protejo ou não meu filho contra os raios solares?

Claro que sim! Estudos mostram que o uso de filtros solares realmente pode reduzir a produção de vitamina D, mas usar todo dia não resulta em insuficiência de vitamina D, uma vez que a maioria das pessoas não aplica a quantidade ideal de filtro solar. Além disso, não podemos esquecer que tomar muito sol aumenta o risco de câncer de pele. A Academia Americana de Dermatologia estima que 80% da radiação solar que recebemos na vida ocorrem até os 18 anos de idade. Mais um motivo para 
protegermos bem nossos pequenos! Mas isso não quer dizer que temos que cria-los nas sombras. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda 30 minutos de exposição solar semanal (ou 6 a 8 minutos por dia, três vezes por semana) para bebês apenas com fraldas, ou 2 horas semanais (17 minutos por dia) em bebês com vestimentas (apenas face e mãos expostas) e sem chapéu, no primeiro ano de vida. Apesar do horário entre 10 e 16 horas ser o mais propício para a formação de vitamina D pela pele, a exposição solar nesse horário dever ser evitada. Outra recomendação da SBP é que crianças e adolescentes devem ser estimulados a consumir regularmente alimentos ricos em vitamina D e a praticar atividades ao ar livre com exposição solar segura.

Mas por não termos certeza qual seria a forma de expor as crianças ao sol com segurança para atingir concentrações adequadas de vitamina D, sua suplementação é sempre recomendada em crianças abaixo de 2 anos, seja com vitamina D pura ou com polivitamínicos (exemplo: Protovit®). A SBP recomenda 400 UI/dia a partir da primeira semana de vida até os 12 meses, e 600 UI/dia dos 12 aos 24 meses, inclusive para as crianças em aleitamento materno exclusivo, independentemente da região do país. Nos grupos de risco, recomenda-se a dose mínima diária de 600 UI, monitorando sempre que possível e, se necessário, reajustando a dose. 

Todas as crianças precisam dosar a vitamina D no sangue?

Não! Como já falado, todas as crianças até 2 anos devem receber suplementação da vitamina de forma adequada, além de serem estimuladas em relação à alimentação e brincadeiras ao ar livre. Nesses casos, não haverá necessidade de dosar, a não ser que ela pertença a algum grupo de risco. 
E quais seriam os grupos de risco? Crianças amamentadas ao seio sem suplementação ou exposição solar adequada ou com pele escura (a melanina diminui a ação dos raios UVB na produção da vitamina D), limitada exposição ao sol e necessidade de rigorosa fotoproteção, má-absorção de gorduras, doença renal, obesidade ou em uso de drogas como rifampicina, isoniazida, fenitoína e fenobarbital. Apenas nesses grupos de risco e nos casos suspeitos de deficiência há necessidade de dosar a vitamina.

O excesso de vitamina D é perigoso?

A vitamina D em excesso favorece o surgimento de problemas renais, ósseos, alérgicos, autoimunes e hepáticos. Daí a importância de evitar a automedicação. Mas é fundamental ressaltar que as doses recomendadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria não representam ameaça.

O que os dermatologistas falam sobre isso?

Considerando os benefícios da vitamina D para a saúde dos ossos (já que os outros benefícios citados ainda estão em estudo) e os riscos da exposição solar, especialmente relacionada ao câncer de pele, a Sociedade Brasileira de Dermatologia se posiciona da seguinte forma em relação ao assunto:

1 – A exposição ao sol, de forma intencional, não deve ser considerada fonte para a produção de vitamina D, nem para a prevenção de sua deficiência;

2 – As medidas de proteção solar como uso de roupas e chapéus, óculos escuros e evitar o sol em horários entre  10 e 15h continuam sendo as recomendações mais adequadas para a prevenção do câncer e envelhecimento da pele.

3 – O uso de protetores solares com Fator de Proteção (FPS) superior a 30 deve ser recomendado para todos os indivíduos acima de seis meses de idade expostos ao sol. Não se deve realizar exposição ao sol sem o uso adequado de protetores solares. Crianças abaixo de seis meses não devem se expor diretamente ao sol e não devem fazer uso regular de protetores- solar. Não se recomenda o uso rotineiro de protetores solares com Fator de Proteção Solar (FPS) abaixo de 30;

4 – Pacientes com risco de desenvolver deficiência de vitamina D devem ser monitorados através de exames periódicos e podem utilizar alimentos ou suplementos vitamínicos para prevenção de deficiência de vitamina D.

Resumindo...

A recomendação de suplementação de vitamina D da SBP é para crianças abaixo de dois anos. É obrigatória no bebê que mama no peito a partir da primeira semana de vida. Para as crianças que usam fórmula infantil, é necessário que o pediatra verifique o quanto está recebendo (as fórmulas possuem várias vitaminas, inclusive a D) e continue complementando a dose caso necessário. Mas lembrem-se: nada de automedicação! Procure seu pediatra para obter mais informações e saber se seu filhote tem necessidade de suplementação ou de dosar ou não essa vitamina.

Foi um prazer participar do blog! Até a próxima!

Bjs

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