Olá pessoal !
Meu nome é Mariana Neves Carvalho, tenho 36 (quase 37) anos, solteira, sonho em também ser mãe. Mas estou por aqui falando com vocês porque sou obstetra e ginecologista. Cursei medicina na Universidade Federal Fluminense,me formei em 2004. Posteriormente fiz 3 anos de Residência médica em ginecologia e obstetrícia na Maternidade Carmela Dutra no Rio de Janeiro (local de imenso movimento) e no Hospital da Piedade. Durante esses anos de profissão estive em diversas maternidades do SUS e morei um ano no Sertão do Ceará, experiência muito rica. No momento trabalho em duas maternidades que me fazem muito feliz, onde há a procura de respeitar a gestante e oferecer, mesmo com recursos algo escassos, uma assistência digna e com a presença de um acompanhante de sua livre escolha. Infelizmente não foi assim durante toda minha trajetória. Trabalho ainda em consultório, em parceria com o especial Philippe Godefroy, obstetra, que assim como eu, quer ajudar na mudança do paradigma no nascer. Formamos o Grupo Nascer.
 Fiquei  muito contente com o convite da Renata para estar escrevendo sobre " Tipos de Parto " para seu blog. Acho muito bom ter um espaço para dizer como o obstetra pode sim estar " do mesmo lado" de quem procura respeito ao parir. Todos sabemos como têm havido grandes polêmicas sobre o assunto e como os médicos têm sido criticados devido suas opiniões e condutas. É importante então, para mim, poder informar como procuro fazer meu trabalho e como há obstetras, que como eu, dão valor a esse marco na vida de uma mulher e de sua família.
Como a internet hoje nos oferece uma grande gama de informações sobre o tema e vocês certamente já conhecem os "Tipos de Parto" de uma forma mais burocrática ( assim eu diria), vou tentar falar sobre o assunto como se estivesse em meu consultório e como eu tento informar as gestantes que presto assistência.
Faz parte da natureza da mulher a pré-disposição de parir. Desde que o mundo é mundo. Obviamente em alguns casos essa pré-disposição esbarra em limites da natureza individual de cada mulher especificamente. Limites ligados a anatomia, a doenças e intercorrências. Ao falar " parir" me refiro ao ato de ter seu filho por via vaginal.
Só existem duas vias de parto. A vaginal, na qual a expulsão do bebê ocorre pela pressão que as paredes do útero exercem sobre a criança, e a transabdominal, quando a criança é retirada por meio de uma incisão no abdome materno. O que muda nos partos vaginais é a forma como eles são conduzidos.
Fisiologicamente, todas as mulheres estão preparadas para o Parto Vaginal. É a primeira indicação desde que não existam situações de risco para a mãe ou o bebê que exijam outro tipo de procedimento. É importante encorajar as mulheres a conhecerem seu corpo e suas capacidades. Explicar os benefícios para mãe e filho da passagem pelo processo de Trabalho de Parto. Trata-se de um momento de transformação na vida dessa mulher, de uma maneira itensa, ao qual poucos momentos de vida podem ser comparados em termos de  grandiosidade. Perder essa oportunidade de auto-conhecimento humano por escolha própria é um desperdício em minha opinião (essa é a minha opinião! não verdade absoluta!). Além disso, os benefícios práticos em termos de saúde , recuperação física e emocional são conhecidos e difundidos por todos.
O termo "Parto Normal" é empregado para partos via vaginal mas que podem e acabam sofrendo intervenções como anestesia, episiotomia (corte que o médico faz no períneo para facilitar a saída do bebê) e indução das contrações por meio de soro com ocitocina. Esse tipo de parto é o que a grande maioria de nós obstetras aprendemos em nossa formação. Nossa cultura priorisou esse modo de parto via vaginal durante décadas.
O Parto Natural é bastante confundido com o parto normal. Nele não são realizadas intervenções desnecessárias com medicamentos e procedimentos, como corte do períneo. Nele, as necessidades da mulher são respeitadas e valorizadas. Ela escolhe a posição em que decide estar em cada momento do trabalho de parto, inclusive durante o nascimento do bebê. Quem a está assistindo adapta-se às necessidades de movimentação do momento. Exemplos? Permanecer no chuveiro, no "cavalinho", na bola, na banheira, na cama, no chão, deitada, de cócoras, em quatro apoios e por aí vai. No momento da descida do bebê pelo canal de parto, durante a dilatação e período expulsivo, somente a mulher consegue sentir qual a posição mais confortável para ela. Quanto maior o conhecimento do próprio corpo, melhor e com maior fluxo viverá esse momento.
O termo "Parto Humanizado" tenta abarcar algumas características a mais que o "Parto Natural".  Sempre está em foco o desejo da mulher e o que poderá beneficiar o seu bem-estar no momento do trabalho de parto, no parto e no puerpério imediato. Algumas coisas sabidamente benéficas e relaxantes são oferecidas a ela para que possa usufruir de livre escolha. Entre elas a presença de um acompanhante (maioria das vezes seu companheiro), a doula que já a conhece e que dará apoio emocional nesse momento, pouca luz (aliviando o estímulo de estresse que pode inclusive diminuir os níveis de ocitocina, tão importantes nesse momento), banho de imersão em água morna (banheiras os piscinas) e outros métodos de alívio não farmacológico da dor como massagens. Ainda é muito interessante quando podemos contar com a bola de pilates, o "cavalinho" e a banqueta de parto, todos com o objetivo de ajudar na movimentação da mulher e facilitar a descida do bebê pelo canal de parto. Além disso a mulher pode trazer para a cena de parto objetos pessoais e coisas que a fazem sentir bem e calma, como músicas de seu agrado.
A Cesárea é o parto cirúrgico, via abdominal. Nele, a gestante recebe anestesia geral ou da cintura para baixo, chamada raque. Uma incisão (corte) é feito dois centímetros acima do púbis (aquele ossinho que tocamos na região mais anterior da vulva). Algumas camadas da parede abdominal são abertas, assim como o útero, até termos acesso ao bebê e de lá retirá-lo. Essa cirurgia foi criada com o intuito de salvar vidas! E assim o faz até hoje! Existem situações em que o parto via vaginal não é viável ou representa grande risco de morte para a mãe e/ou para o bebê. O que antes do surgimento da cesárea seria fatal passou a ser resolvido com sucesso e com vida. Mas para desfrutarmos dos benefícios da cesariana ela deve ser bem indicada. Deve possuir uma real indicação. Afinal é uma cirurgia e como tal pode oferecer riscos. Riscos esses desnecessarios de se correr marcando uma cesárea eletiva. As indicações são diversas e seria muito assunto para falarmos aqui ( podemos pensar nisso posteriormente). Mas entre elas podemos citar algumas: raras doenças maternas, sofrimento fetal, posicionamento inadequado do bebê no canal de parto dentre outros. Importante salientar que na grande maioria das vezes o diagnóstico que leva a indicação é feita durante o Trabalho de Parto e não antes dele.
A assistência ao trabalho de parto pelo obstetra consiste em acompanhar o processo, verificando se está tudo correndo conforme o esperado e a mulher parirá sem interferências ou se há a necessidade de intervenções para garntir a saúde de mãe e bebê.
Dou uma dica para vocês: se informem bastante, porém em fontes de confiança. Além disso procurem confiar no obstetra que escolherem e bom parto!
 
Show!! Amei!! Por isso você foi escolhida para fazer o meu parto que foi normal, não me arrependo de nada, pelo contrário hj tenho certeza q foi a melhor coisa q fiz. Muitas felicidades e que Deus te abençoe nessa sua profissão linda! 😘
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